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Terra Paulistana

  • otondofrancoise
  • Jan 31, 2024
  • 3 min read

Updated: Apr 15, 2024






Trabalhar com a terra é estar em sintonia com a natureza e uma variedade de temas ligados a este elemento. Território primordial de vida a terra tem muita história para contar. Histórias de tempos, clima, cultura, ciclos, tradição, formação de comunidades, biomas, cidades e povos. Por isso talvez, terra paulistana ganha um destaque nessa galeria de coleção de terras que contam histórias. Pois, jamais imaginei que um dia iria me conectar com a capital paulistana a partir de um canteiro de obras.


Foi quase que por acaso que me deparei com esse terreno que vou chamar de terra paulistana. Ou será que deveria se chamar terra do Butantã ou do Iquiririm?

Estava em São Paulo para acompanhar meu marido num exame de rotina que requer muitos preparos. E aproveitei minha ida para também tentar reabilitar minha carteira de motorista. Logo depois de fazer o mercado deixei o carro em casa decidi ir a pé até a autoescola. Costumo fazer caminhadas com frequência, quando estou na metrópole, para não perder o hábito de olhar o horizonte e não perder de vista a natureza do céu. A cidade com seu concreto massivo costuma interferir nas minhas sinapses.


De repente, na volta para casa encontrei esse rastro de terra no asfalto que me levou até um canteiro de obra de um pequeno prédio em construção. Já com os sinais de curiosidade aguçando meus sentidos acelerei o passo ladeira acima. Ofegante me deparei com uma cena inusitada. Um canteiro de obra, caçambas repletas de terra e uma escavação que revelava uma beleza de camadas de terras das mais coloridas nos diferentes tons de amarelo, laranja, rosa e avermelhado. Tentando recuperar o fôlego, o sentido e o suor do calor escaldante de dezembro pedi, ao mestre de obras, permissão para entrar. Meu coração palpitava sem acreditar que seria possível encontrar esse arco-íris de terras coloridas em plena metrópole. Incrédula, me perguntava como podia ser, porque esse solo é assim, qual a história desse lugar, o que poderia ser contado sobre o bairro, o rio, a cidade?


A escavadeira retirava toneladas de terras coloridas e colocava na caçamba. Eu logo tirei uma sacola de supermercado que tinha na bolsa e pedi se poderia levar um pouco desta terra para pesquisa e os trabalhos de pigmento natural. A resposta veio logo:

_ Olha moça. Pode levar o quanto quiser, mas nessa sacola o que cabe vai ficar pesado.


Corri para casa. Eram quase cinco da tarde, horário de fechamento do local de trabalho. Pedi ao mestre de obras, Sr. Osvaldo, que me esperasse um pouco o que ele gentilmente atendeu. Voltei de carro e com as sacolas que tinha. Junto com Sr. Orlando e o operador da escavadeira escolhemos os pedaços ainda molhados de terras amarelas,  um poco de rosado e tons laranjas. Meu entusiasmo era tamanho que ele me convidou para voltar no dia seguinte e disse: Hoje foram 2 caçambas e amanhã são mais 3. Eu não sabia se ria ou chorava de emoção. E ficava me perguntando para onde iria essa terra tão preciosa? Pergunta que ninguém ali sabia responder.  


No dia seguinte voltei, e no outro também. Impossibilitada de dirigir de volta pra Bragança minha irmã que estava em São Paulo com os meus sobrinhos levou o carro para o sítio, onde moramos, com o porta-malas lotado de terra. Os meninos, inquietos, me perguntavam, para que tanta terra, tia Fran?

Bom! E pra completar a história, o exame do meu marido não aconteceu, ignorei mais uma vez todas as tarefas de reabilitação da minha carteira de motorista, mas descobri um mundo novo. De conexão com a cidade a partir das terras paulistanas, do Butantã, lá pertinho do rio Iquiririm. Agora, pesquisa, estudo e co-criação com a natureza.

 
 
 

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