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Terra Uspiana: a paleta de cores da cidade universitária

  • otondofrancoise
  • Jul 30
  • 3 min read

 

Longe do atelier em Bragança Paulista a rotina muda, O pensamento usualmente conectado com o dia a dia do campo e o acervo de terras que vai ganhando o quintal de casa na roça perde espaço para o dia a dia cidade grande. É o que acontece quando estou com São Paulo acompanhando meu marido, que ainda mora aqui, nas demandas da casa, do trabalho e da nossa vida social.

Mas, graças ao inesperado e ao efeito surpresa recebi mais um chamado direto da terra. Curioso como geralmente é nessas situações que a novidade chega estendendo um novo campo de pesquisa com as cores da terra. Foi assim com Terra Paulistana, como contado aqui no blog, e agora com a paleta de cores Campus Butantã, Terra Uspiana.  

Era uma manhã fria de um outono quase invernal em pleno mês junino. Da janela do apartamento que faz divisa com o campus da USP, Universidade de São Paulo, escutei o som de uma retroescavadeira. Não dei muita bola, pensando ser uma obra de reparo do outro lado do muro, e junto como meus botões, naquela conversa íntima de quem quer se auto aconselhar, disse em pensamento para mim mesma.” Não vai desviar o foco, hein. Estamos em fase de produção, não é momento de abrir um novo campo de pesquisa em São Paulo. Melhor nem prestar atenção. “

Mas, a cada manhã, o som da retroescavadeira insistia em me cutucar. Depois de três dias acordando assim resolvi apressar os meus passos na direção do movimento do referido trator. Pela passagem de pedestres do campus, que fica a poucos metros da entrada de casa, corri numa mistura de curiosidade e entusiasmo. Mais alguns passos e pronto. Se deu a revelação de um canteiro de obras numa extensão de mais ou menos 300 metros e uma variedade de cores de terra do branco rosado, passando pelo cinza, diferentes ocres, vermelhos e terra cor de goiaba.

Preciso abrir um parêntese aqui e tentar reproduzir o meu estado de alegria a cada vez que me deparo com uma revelação da natureza com as cores da terra. É uma sensação de espanto e euforia, uma respiração que fica claramente ofegante, o coração que palpita se expressa em rodopios de pés saltitantes. O riso solto ganha sons em diferentes escalas e o corpo é tomado do mais puro contentamento. Ver a terra com suas formas e cores é para mim um êxtase.

Voltando para o canteiro de obras, logo avistei o empreiteiro e como de costume me apresentei. Seu Pedro, gentilíssimo, ouviu minha história de pesquisadora das terras e artesã de tintas naturais com a mesma expressão de ponto de interrogação que habitualmente surge em situações como essa. Ele me contou o motivo da obra e ali e me permitiu recolher as amostras de terras escavadas num acesso seguro perto e do lado de fora da malha de proteção que impede o trânsito de pessoas não autorizadas.

Eu tinha apenas alguns saquinhos comigo. Levei o que pude e perguntei se poderia voltar mais tarde com meu carrinho de mão. Foram seis dias de muitas idas e vindas. Momentos em que estive lá só para interagir.  Em que parei, olhei, contemplei por horas, fotografei. Sabia que o meu tempo ali naquele cenário seria breve ao contrário do tempo da terra que ali está há milhões de anos moldando mineralmente seus tons de pura beleza em forma de cores.

 
 
 

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