TABATINGA: e a beleza de uma falésia

TABATINGA

Sf: Qualquer tipo de argila mole e untuosa, sedimentar de colorações diversas.

Como num abraço de peito aberto a falésia se apresenta. Escancarada paisagem de tamanha criatividade e rara beleza que em camadas revela uma composição de centenas de milhares de anos. Pode parecer repetitivo, mas é comum falar de estética, tempo e criatividade quando o assunto é terra. E diante das falésias de Tabatinga esta interação se revela em dimensões de tamanho, sentido e composição.

Uma falésia, na sua descrição mais literária, é uma encosta cujo monte, ou formação de terra, se altera com uma possível erosão causando aberturas significativas nesses maciços. Vivida a experiência de estar diante de uma das centenas de falésias da costa brasileira, eu diria que é uma possibilidade única de conhecer, perceber e sentir a vida de uma montanha* no seu aspecto identitário, íntimo, único. É estar diante de uma verdadeira entidade. E essa relação os nossos povos originários já conhecem muito bem.

As cores de Tabatinga impressionam. Pode parecer óbvio o testemunho. Mas, ao percorrer os quase mil metros de praia junto à falésia se tem a impressão de que essa paleta foi feita minuciosamente misturando tons e matérias em diferentes pinceladas. Desde um bege acinzentado até o lilás, passando por um paredão de vermelhos com uma fina camada de amarelo que dita a cada grão de areia o tempo que ali rege e permanece.

Revelar as cores da pesquisa realizada em Tabatinga foi um processo cuidadoso, minucioso e respeitoso. Uma edição limitada de aquarela na medida em que a coleta foi feita a partir de pequenos fragmentos desprendidos da falésia já na eminência de serem levados pelo mar.

Estar diante de uma falésia é estar diante de uma obra de arte cuja autoria divina guarda em cada camada de terra, em cada grão de areia e rocha de origem uma fórmula criativa repleta de segredos e magia.

Como em muitos lugares onde o turismo gera um grande fluxo de interferências a esses ecossistemas, tão importantes para a manutenção da vida, é vital que essas obras sejam preservadas numa relação intrínseca com a inteligência sistêmica que nos mantém neste planeta. Tabatinga é um exemplo claro desta relação. Devemos e temos que honrar, cuidar e preservar tamanha biodiversidade.

Estamos vivendo um momento em que os cientistas alertam para o ponto de não retorno e nos colocam diante das incertezas de um mundo que avança com uma prática econômica de dominação e destruição. Como fazer para lidar com os desafios e fazer parte de uma mudança que coloque a natureza no centro das decisões mundiais?  São muitas as perguntas para um mundo que urge por respostas.

É sabido que o cuidado provém do amor. Para cuidar é preciso amar. Esta é a trilha, este é o passo para que o abraço de peito aberto se perpetue. O que me faz lembrar um pensamento da atriz Fernanda Montenegro que diz:  Se a educação é o esqueleto de uma pessoa, a cultura é a alma”. Eu diria ainda que  se a educação é o esqueleto e a cultura a alma, certamente a Ecologia é a Consciência.